Em um experimento foi apresentado uma série de imagens rápidas a um grupo de pessoas. Essas imagens incluíam cenas abstratas, rostos, uma arma e uma furadeira. Isso em sequência aleatória onde a troca de imagem acontecia de segundo a segundo, sem parar por 30 segundos consecutivos. Depois desta observação era feita a pergunta de quantas vezes a arma aparecia e em qual sequência. Entre várias conclusões o estudo afirmou que a maioria das pessoas confundem a furadeira com a arma, mais facilmente, quando a imagem imediatamente anterior é a de um rosto negro.
Em 1990, Amador Allo, um jovem negro imigrante nos Estados Unidos estava chegando em sua casa à noite quando foi abordado por policiais em uma viatura. Assustado com a abordagem Amador tirou sua carteira do bolso e imediatamente foi vitimado por 19 tiros, dos 41 disparados pelos policiais. O argumento dos policiais foi de que confundiram a carteira com uma arma. Assim como muitas pessoas no estudo descrito no início deste texto.
Vamos entender um pouco mais sobre preconceitos.
Um dos exercícios mais básicos que nossa mente faz é categorizar. Isso por que nosso cérebro não consegue processar todas as informações disponíveis em um ambiente. E assim ele encontrou uma forma de acelerar o entendimento das informações para assim descobrir ameaças e oportunidades. Com isso economizamos tempo, atenção e nos mantém prontos para lidar com situações que o ambiente pode apresentar.
Mas categorizar é reduzir informações e isso nem sempre é o melhor caminho. E quanto maior a diversidade de possibilidades, maior é também a chance de deixarmos passar informações importantes para esta mesma categorização. E quando falamos da diversidade humana então, isso se torna ainda provável que aconteça.
Nós categorizamos pessoas o tempo todo mesmo sem perceber. Por isso temos na mente grupos específicos como gremistas e colorados, homossexuais e heterossexuais, ricos e pobres, pagodeiros e roqueiros, e assim por diante. Esses grupos são o que chamamos de estereótipos. Um estereótipo é o que achamos sobre as pessoas de um determinado grupo. Já o preconceito é uma avaliação afetiva que possuímos sobre um indivíduo percebido como participante destes grupos.
O preconceito tem relação direta sobre o quanto você gosta ou não dos membros de um grupo. E seu cérebro é tão convincente em relação a esta avaliação que você acredita ser positivo convencer as pessoas a sua volta de terem a mesma avaliação afetiva que você tem.
Mas nem todo preconceito é assim. Outro tipo de preconceito estudado é o preconceito implícito.
É quando temos uma avaliação sobre um grupo específico, mas não à temos de forma consciente. Mesmo não tendo consciência podemos agir de forma preconceituosa com os outros, mesmo que de forma velada. Um bom exemplo é quando um segurança de um estabelecimento começa a seguir, ou a observar, uma pessoa negra, sem que esta esteja se comportando de forma diferente de outras pessoas no mesmo estabelecimento.
A discriminação ocorre quando uma ou mais pessoas são tratadas de um jeito diferente por serem percebidas como parte de um grupo.
O exemplo mundialmente conhecido foi a segregação racial na África do Sul até os anos noventa. O Apartheid pré-estabelecia que os negros não tinham os mesmos direitos que os brancos, e assim não mereciam o mesmo tratamento. Mesmo quem discordava desse regime acabava por colocar em dúvida a integridade moral de um negro desconhecido, sem nenhum motivo para tal.
Por pior que seja reconhecer que o preconceito exista mesmo sem nossa consciência, é o primeiro passo. Mas não a solução do problema. Não podemos concordar ou ficar inertes em situações de violência ou desfavorecimento de qualquer pessoa pelo mero fato de ela ser percebida como parte de qualquer grupo. Esse comportamento não faz parte de uma sociedade democrática.
Ler e reconhecer o preconceito pode facilitar não só o entendimento dos aspectos mais básicos de nosso comportamento social, como também pode nos ajudar a diminuir o impacto destes atos nefastos.
Não sejamos neutros aos prejuízos contra qualquer pessoa de qualquer grupo, origem, escolha ou característica pelo simples fato de serem diferentes daquilo que desejamos para nós ou para nossos próximos.
O papel do “cidadão de bem” ou da “pessoa de bom caráter” é garantir, não só a sua liberdade e direitos, como também o de todos os outros indivíduos que participam de sua sociedade.
Que este Natal seja de conscientização, entendimento do próximo e amor para com todos os brasileiros.
Amor acima de tudo, esse é verdadeiro lema.